segunda-feira, 21 de junho de 2010

Esse lance de aparência...

Donato já caminhava pelas ruas sem rumo. Altas madrugadas, passagens em vários bares e aquele básico zero a zero. Com a noite praticamente perdida, decidiu encerrar os trabalhos daquela sexta-feira num bar onde costumava bater ponto. De repente, se viu jogando sinuca com uma mulher, sem saber como aquilo havia começado. Bonita, a menina não apresentava muita desenvoltura diante do bilhar. Não tinha qualquer importância para Donato. Queria mesmo era se arrumar. Trocaram algumas palavras enquanto jogavam até que veio o convite da jovem:
– Tá rolando uma festa na casa de uns amigos. Ta a fim de chegar lá, é aqui perto?
- Pô, vamos sim. Ta caído isso aqui com a situação – respondeu Donato, cada vez mais entusiasmado com a situação
- A gente só precisa levar umas cervejas.
Donato e a menina deixaram o bar em direção à festa. Dali, os dois caminharam um bom pedaço até um posto de gasolina para comprar umas latinhas e, então, seguir para a casa dos amigos da moça.
– Eu quero um engradado de Heineken, por favor – pediu Donato.
– E um maço de cigarro pra mim – acrescentou a mulher, sem cerimônia.
Donato gastou as únicas 50 pratas que tinha no bolso para pagar a conta no posto de gasolina. Não tava nem aí. Achava que já estava no lucro com o fim de festa promissor. Até chegarem à prometida festa, foram mais alguns minutos de caminhada. O papo no trajeto agradava cada vez mais a Donato. Havia achado a mulher gostosa, bonita e, descobrira que também era interessante. Só não sabia o que lhe esperava.
Entraram no edifício dos amigos dela e subiram até o apartamento. Assim que a porta do elevador abriu, Donato começa a escutar uma violenta discussão de um casal. O som da briga ia aumentando na medida em que caminhavam em direção ao apartamento dos amigos da mulher. Ao chegar na porta, escancarada, Donato se depara com a cena de um imóvel sem qualquer sinal de festa e um casal discutindo cada vez mais violentamente. Briga que foi momentaneamente interrompida pela jovem que o acompanhava.
– Calma, gente! Vocês querem conversar, vamos lá para o quarto – sugeriu a menina, seguindo com os amigos.
Donato, sem saber o que fazer, senta num dos sofás do apartamento. Uma hora depois, surge a mulher.
– Pô, acho melhor você ir embora, sabe.
– Mas não vai rolar nada! Eu tô a fim de ficar contigo – respondeu Donato, sem acreditar no que acontecia.
– Sabe o que é, eu me ligo nesse lance de aparência – explicou a mulher, já seguindo com Donato para o elevador.
Já dentro do elevador e ainda sem acreditar no que havia escutado, Donato tenta a última cartada.
– Mas você não me achou bonito?­
– Me desculpa – disse a menina, laconicamente e já apertando o botão para o elevador descer.
Enquanto a porta se fechava, Donato só via a imagem da menina, com aquela cara de que apenas lamentava a situação.

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