sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lambança na esquina de casa

Estava saindo de casa e virei a rua distraída, ao som do meu iPod. A duas quadras do meu prédio, fui sugada do meu mundinho paralelo pela imagem de um mendigo maltrapilha, que perambulava cambaleante pela calçada. "Coitado...", pensei.

Jung foi mestre quando definiu o inconsciente coletivo. O mendigo certamente percebeu minha cara e meu olhar piedosos e não tardou em fazer uma abordagem:

"Moça, uma esmolinha, por favor"

Pensei: puta merda. É fato que tinha sentido pena e tal, mas não tava disposta a abrir a bolsa, tirar a carteira e dar um dinheiro aquele homem ali, naquela hora... Mesmo assim, meu coração estava tomado de sentimentos puros. Olhei bem nos olhos deles com toda a doçura do meu ser e respondi:

"Desculpa, moço, não tenho"...

Depois desse momento, tudo fluiu muito rapidamente. Foi quase um piscar de olhos. Quando me dei conta de mim, ele estava estendendo a mão na minha direção. No auge da ingenuidade, pensei: "ele quer me cumprimentar". Estendi a mão pra ele também. Ele segurou gentilmente minha mão, e foi levando lentamente em direção à boca, olhando fixo para o meu rosto com uma expressão de "te quero nega". De novo pensei: "Tadinho, ele só quer dar um beijo na minha mão". Ai, santa...

De um momento pro outro, ele começou a lamber sensualmente a minha mão toda. Eu fiquei sem reação. Puxei a mão rapidamente. Ele na expectativa do que eu faria a seguir e eu completamente disorientada, só consegui responder:

"Obrigada".

E saí.

Então, gente, se algum mendigo se sentir à vontade de lamber a sua mão na rua, podem me culpar... afinal, ele deve ter achado que eu adorei a lambidinha...

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