sábado, 10 de julho de 2010

Jorginho, um cara esperto

Jorginho era um cara esperto. Morava na zona norte, flamenguista, peladeiro. Não era de dar bobeira. Beirando os seus 20 anos, já havia ingressado na faculdade de ciências sociais. Desde criança ja tendia pelas áreas humanas, e na escola, odiava e matava as aulas de Física.
Em pouco tempo de faculdade, por todo seu jeito falastrão e descolado, ele já havia feito uma boa quantidade de amigos, e costumava dormir alguns dias na casa de um deles, em Santa Tereza. Alex morava com o irmão, sete anos mais novo, em um conjugado de no máximo 15 m2, com um recuo chamado de "cozinha" e um outro de "banheiro". A vista pelo menos era bonita e apontava para o cristo redentor e o morro da coroa.
Num desses dias, Jorginho e Alex subiram juntos para Santa. Como a grana era curta, costumavam subir a pé, mas nesse dia decidiram ir de bonde. Qualquer centavo de economia era fundamental para garantir a cerveja do fim de semana, e por isso, subiram de bonde pendurados na lateral (maneira perpicaz e “permitida” utilizada por muitos moradores para não pagar a passagem).
Alex já havia feito isso outras vezes, sabia das armadilhas dessa manobra e, por isso, logo orientou o amigo, informando que para aqueles que sobem pendurados o motorneiro não pára o bonde para que eles possam descer (seria muito abuso, não acha?). Jorginho deveria ficar ligado para descer ao primeiro sinal que o amigo fizesse, seguindo o movimento dele.
Já próximo da casa de Alex, decidiram descer na esquina anterior, onde ficava uma mercearia, para comprar alguns apetrechos a fim de fazer um rango mais tarde.
O bonde vinha em movimento razoavelmente lento, e logo Alex deu o sinal e pulou agilmente pela lateral do bonde, impulsionando o corpo para a frente a fim de manter o movimento e equilíbrio na descida. Jorginho não teve a mesma sorte e habilidade. Ainda carregando a sua inseparável mochila, primeiro exitou no momento da descida, já que o bonde começou a acelerar. Em seguida pulou, já na calçada da padaria, onde pelo menos uma dezena de pessoas faziam e esperavam pelos seus pedidos. Sem a experiência de Alex, não deu impulso suficiente ao corpo e saltou para tentar aterrisar e cair parado. Obviamente, a velocidade que o corpo estava o jogou para frente, anunciando um plástico estabaco. Já sentindo que a vaca ia pro brejo, quando menos esperavam, Jorginho encaixou um rolamento improvável, alá Aurélio Miguel. Apenas com esse movimento, ele conseguiu passar por toda a extensão da calçada, com mochila e tudo, e foi parar, em pé, direto na bancada da padaria.
Ainda sem respirar e sem pensar duas vezes, pediu:
- Uma lata de salsicha e meia dúzia de ovos, por favor.
A senhora que estava ao lado, e viu toda a cena, perplexa, não se aguentou:
- Você é do circo meu filho?
Definitivamente, as aulas de Física fizeram falta a Jorginho. Mas Jorginho ... é um cara esperto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário