quarta-feira, 28 de abril de 2010

O resgate do vizinho

Entrei cambaleante em casa, depois de uma noite regada a cuba-libre e risadas com o ruivo barbudinho. Foi quase simultâneo: acendi a luz e comecei a ouvir vozes - “quediabéisso?”, indaguei-me, já que sou a única moradora de um achado imobiliário na Rua Paissandu. Era o vizinho, não de andar, mas do prédio do outro lado da rua, que gritava e gesticulava energicamente.

- Estou há hooooooras preso aqui, a porta do quarto travou. Grito, grito e ninguém parece me ouvir.

- Calma, não se preocupe que eu já desço e aviso ao seu porteiro. Peguei o Rubinho (apelido do meu elevador) para tentar resgatar o vizinho desesperado. Eis que:

- Sim, senhora, já me falaram que ele está gritando e está preso. Mas eu já cansei de tocar a campanhia e interfonar e ele não atende de jeito nenhum!

- Querido, que eu saiba ele não tem uma extensão do interfone da cozinha no quarto e, uma vez, preso, como ele vai abrir a porta? – expliquei o óbvio ao porteiro, tentanto engolir uma gargalhada que teimava em sair.

- ....

- Então, que tal arrombar a porta?

- Dona, eu não vou abrir a porta sem a autorização. A senhora não o conhece, é um criador de caso. Vai acabar sobrando pra mim. Só falando com ele e com testemunha do lado!

O jeito foi levar o porteiro, a síndica e uma vizinha curiosa até meu apartamento para que o criador de caso (?) explicasse, aos berros, que podiam arrancar a porta, escalar a janela, fazer um furo na maçaneta, o que fosse necessário para que o tirassem daquele quarto maldito. Prometeu também que se mudaria assim que possível, não queria morar num prédio com um bando de malucos. Ele nunca se mudou, mas foi salvo pelos bombeiros meia hora depois da confusão, assisti de camarote. Eu ganhei alguns pontinhos com a minha consciência, mas muitos outros com o vizinho, que me agradeceu com um pote de sorvete e até hoje me sorri através da janela do quarto na Paissandu.

Um comentário:

  1. Engraçado isso.
    O porteiro uma figura, o vizinho também e o pote de sorvete no fim.

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