terça-feira, 11 de maio de 2010

Só na diplomacia...

Havia chegado a Washington pouco menos de um mês depois dos atentados de 11 de setembro. A cidade ainda tentava desfazer-se do clima de medo, pessoas retomando, aos poucos, a normalidade da vida. Desembarquei na capital americana, escolhido para representar a equipe que conquistou o prêmio da Sociedade Interamericana de Imprensa pela produção de um caderno especial sobre impunidade.
A viagem começara temerosa. Ainda no Galeão, aeronave pousada, uma imensa mulher, que mal cabia na poltrona, senta-se ao meu lado. Tremi, confesso. Passei, imediatamente, a imaginar como seria minha viagem até Miami, onde faria escala. A jovem, após sentar-se, com toda dificuldade do mundo, olha pra mim e sorri. Eu, com a indisfarçável cara de muito puto da vida, sorrio também.
– Não se preocupa não. Elas (as aeromoças) sempre me transferem para a classe executiva – disse a menina, sorrindo. Ainda com a mesma cara de pouquíssimos amigos, sorri de novo. Antes mesmo de o avião decolar, alívio.
Em Miami, o aeroporto estava tomado pelas tropas americanas. Um clima pesado. Na imigração, um policial me fuzilou com os olhos ao constatar minha nacionalidade. Na conexão para Washington, uma revista rigorosa me fez tirar até os sapatos. País de merda, pensava eu. Cansado, partir para meu destino final.
Já em Washington, seguia para o JW Marriott, onde acontecia o congresso anual da SIP. Dentro do táxi, aproveitei para iniciar minha apuração sobre o clima que a cidade vivia nas primeiras semanas pós 11 de setembro.
– Are you afraid because anthrax – perguntei ao motorista, num inglês muito ruim. A resposta, para minha surpresa, foi não. Conversa que segue, a descoberta que sou brasileiro e, na sequência, a tradicional frase Pelé!! Pelé!! Me calei. Não tinha mais nada a dizer aquele analfabeto. Desci, puto, em frente ao Marriott.
Os dias seguiam, aquela coisa meio morna, até que numa visita ao parque industrial do Washington Post, me deparo, ainda no ônibus, com os olhos de Maria José – ou Rossé, como pronunciava num péssimo espanhol. Costa-riquenha de curvas muito generosas, cabelos morenos, uma boca apetitosa – é o que consigo lembrar, Maria José sorriu ao reencontrar meu olhar. Em pouco tempo, já estávamos caminhando juntos durante a visita ao Post. Na volta, sentamos, conversamos e combinamos ir juntos à premiação, que seria naquela noite.
E aquela noite seria inesquecível. Depois da festa, fomos a um bar. Eu, ela, alguns amigos dela e um grupo de brasileiros. Bebemos, mas tivemos que deixar cedo o lugar. Dali, decidimos caminhar até o hotel pelas ruas desertas da capital. Não era longe. Enquanto andávamos, nossas mãos se esbarravam carinhosamente. Não demorou, já nos atracávamos nas ruas de Washington. Eu de terno e ela, num vestidinho sensacional. Claro, um tesão incontrolável nos devorou.
Já na calçada lateral do Marriott, fizemos dos imensos arbustos, em imensos vasos, nosso palco. Beijos molhados, uma excitação incontrolável e a calcinha por baixo do vestido já puxada para o lado. Os movimentos acompanhavam a adrenalina de estar em plena rua, em outro país. Foi aí que um carro da polícia parou na esquina. Imediatamente, nos recompomos. O policial, do carro, nos olhou e decidiu ir embora. Voltamos ao prazer incontrolável, mais excitados ainda. Seguíamos a sacanagem, quando novamente um carro da polícia para na esquina. Um policial desce, anda alguns metros, mas nos vê conversando calmamente. Diante da ameaça, decidimos encerrar a conversa. Beijos molhados e a inesquecível frase de Maria Rossé.
– Faltou um poquito, faltou um poquito!
Até hoje eu não sei se faltou um pouco para ela gozar ou para criarmos um incidente diplomático.

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